As crianças e o Stress

Hoje em dia, com a exigência que nos fazem e que nós fazemos aos nossos filhos, de atingirem objectivos, de terem as melhores classificações, de serem os melhores, sem saber estamos a criar-lhes uma série de problemas emocionais e comportamentais, quando o que queríamos era exactamente o oposto.



Como sabem os nossos filhos observam tudo o que fazemos e dizemos e tentam imitar-nos, por isso quando vemos uma criança muito agitada, que não pára um bocadinho, podemos antes de mais perguntarmo-nos a quem é que ela está a imitar? Claro que não será do mesmo modo, não vos estou a ver aos pulinhos por aí, embora por vezes as nossas corridinhas de pressa possam parecer-se com os pulinhos deles.

Estamos stressados, passamos o dia cheio de stress, com milhões de coisas para fazer e para pensar, mas quando estamos com eles no início e ao fim do dia, continuamos desse modo? Devemos fazer uma pausa, exactamente porque estamos com eles, e eles merecem a nossa atenção a 100%, dado que estamos tão pouco tempo com eles.

Não me esqueço que aqui há uns doze anos atrás, um casal trouxe-me o seu pequeno filho de 3 anos de idade, andava impossível, sempre com birras, e pior que tudo passava a noite a acordar quase de 2 em 2 horas, e perguntavam-me o que é que a homeopatia podia fazer por ele bebé e, por eles pais que já não aguentavam mais. Quando comecei a observar o pequenino, pareceu-me sobretudo que era uma criança stressada, mas de princípio recusei essa ideia, pareceu-me tão incrível. Haveria de ter outra razão.

Mas no fim de o observar e de fazer a anamnése tudo apontava realmente para o stress como causador de todos aqueles distúrbios. Perguntei então à mãe como era um dia típico, a que horas se levantava, comia, etc. Então a mãe começou por dizer como eles pais trabalhavam em Lisboa e moravam nos arredores, tinham que se levantar muito cedo, mas só o acordavam à última da hora para que ele pudesse dormir mais um pouco, mas o que acontecia na maioria das vezes era acordado à pressa, vestido à pressa, e à pressa para o carro com o leitinho na mão, ouvindo os pais culpando-se mutuamente porque mais uma vez saíam tarde de casa, ou seja 07:35 horas da manhã. O primeiro a sair do carro era o pai que trabalhava num Banco, depois lá ia o pequenito para o infantário, sempre com pressa e a correr, porque a mãe que era professora ainda tinha que ir dar aulas, para uma pequena cidade a 1h de distância.

Ao fim da tarde, era o percurso inverso só que a pressa da tarde era de chegarem a casa para se despacharem, para o dia seguinte recomeçarem tudo de novo. E, como é que era possível reclamar de tanta pressa? Birras, claro! Assim pelo menos ouviam-no. Questionei os pais sobre o que eles pensavam fazer para alterar aquele tipo de vida que era desumano para todos eles. Não sabiam, já tinham falado disso mas sempre tinham vivido ali, a casa era deles e gostavam muito dela. Os locais de trabalho é que eram longe. Sugeri-lhes que mudassem de casa para a pequena cidade onde trabalhava a mãe, aí poderia arranjar um infantário perto, de modo a que a criança não necessitaria de se levantar tão cedo. O pai como seria o único a deslocar-se para Lisboa, também viria sem tanto stress, dado que daquela entrada para Lisboa era mais fácil.

Depois das inevitáveis perguntas “Mas vamos ter que vender a casa? E mudar para uma cidade desconhecida?!” tantas questões. Sugeri-lhes que pensassem no assunto mas de outro ponto de vista, no fim eles é que sabiam como queriam desfrutar a vida. Prescrevi um medicamento homeopático para ajudar o stress do pequenino e esperei.

Passados seis meses vieram só os pais à consulta. Fizeram uma pausa dramática e depois contaram-me agradecidos que tinham vendido a casa, e tinham-se mudado de “armas e bagagens” para a nova cidade, e tudo estava a correr lindamente, o filho feliz e contente, calmo, sem birras a desabrochar como uma flor, cada dia mais calmo, mais social, mais carinhoso. A esposa feliz porque tinha tempo para tudo dado que moravam perto da escola e do infantário, andando por isso muito mais a pé do que alguma vez com a vida anterior. O pai geria o seu tempo muito melhor, sabendo que no fim do dia regressava a um lar calmo. A qualidade de vida que passaram a ter era superior às melhores expectativas dos seus melhores sonhos.

Como estão a ver na maioria das vezes vivemos em condições emocionais sub-humanas que com alguns ajustes, podem ser muito melhoradas. Depois, não são só os nossos filhos que melhoram, também nós passamos a ter uma vida muito mais feliz e harmoniosa.

E por tabela, os educadores, os professores as pessoas que tomam contam dos nossos filhos diariamente, todos lucram, todos aumentam a sua parcela de felicidade e de bem estar.